HENRY SOBEL PEDIU APENAS
UMA COISA QUANDO MORRESSE
O rabino pediu que, logo
após a sua morte, esse texto fosse divulgado e lido por todos.. Ei-lo:
Imagine que você está à
beira-mar e vê um navio partindo. Você fica olhando enquanto ele vai se
afastando, cada vez mais longe, até que, finalmente, aparece apenas um ponto no
horizonte. Lá o mar e o céu se encontram. E você diz: “Pronto, ele se foi."
Mas foi aonde? O navio foi a um lugar que a sua visão não alcança, apenas isso.
Ele continua tão grande, tão bonito e tão imponente como era quando estava
perto de você. A dimensão diminuída está em você, não nele. E naquele momento
em que você está dizendo: "Ele se foi”, há outros olhos vendo-o
aproximar-se e outras vozes exclamando com alegria: “Ele está chegando”.
Essa mensagem é uma
revelação maravilhosa sobre a vida e a morte... Vamos refletir sobre sua
mensagem central, ruminá-la (mesmo) e, se for considerada útil a alguém,
compartilhá-la.
O Brasil que não
perdoou Sobel pelas gravatas
canonizou Gugu pelo lixo que levou à TV
Por Kiko Nogueira
Diário do Centro do Mundo (DCM)
23 de novembro de 2019
A maneira como o
brasileiro reagiu à morte de Gugu Liberato e de Henry Sobel, no mesmo dia, dá
uma dimensão da nossa encrenca psicotrópica-moral.
Sobel foi um
gigante que ajudou a enterrar a ditadura quando se recusou, em outubro de 1975,
a sepultar Herzog como suicida no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo.
O jovem rabino
viu as marcas de tortura e não comprou a versão oficial do Exército.
Na semana
seguinte, comandou uma missa ecumênica histórica com dom Paulo Evaristo Arns, à
época arcebispo de São Paulo, e o pastor Jaime Wright na Catedral da Sé.
Tinha 31 anos. (Meu
pai, o jornalista Emir Nogueira, fez parte da organização).
Sobel não encarou
apenas o regime militar.
Sofreu
resistência da comunidade judaica, que nunca deixou de ser conservadora. Mesmo
assim, foi adiante.
A internet não
perdoou Sobel quando ele faleceu.
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Rabino Henry Sobel (DCM) |
O episódio em que
ele furtou gravatas foi mais lembrado que sua batalha pela democracia.
Aconteceu numa
loja em Miami em 2008. Ele passou uma noite na cadeia. De volta ao Brasil, se
internou e revelou o uso de remédios. Foi humilhado, julgado e escorraçado.
Acabou afastado
da CIP, Congregação Israelita Paulista.
Em 2013, admitiu
“uma falha moral”. “Peço perdão a todos”, falou. Repetiu essa penitência ao
longo da vida.
Nunca foi
perdoado. Nem no caixão.
Gugu Liberato foi
vítima de um acidente fatal ao cair de uma altura de 4 metros quando fazia
reparo no ar-condicionado no sótão de sua mansão de 629 metros quadrados
em Orlando.
(Seis quartos,
sete banheiros e uma área externa descrita no site realtor como um “oásis
particular com uma encantadora piscina de água salgada, equipado com spa,
cozinha e uma lareira a gás”).
Por razões
óbvias, seu passamento teve muito mais repercussão que o do outro.
Mas sua “obra”
está sendo festejada.
Segundo a Folha,
ele é “dono de uma das trajetórias mais brilhantes da TV brasileira”.
O El Pais o
descreve como alguém que “mudou a TV”.
Um
vice-presidente da CNN Brasil citado pelo jornal o classifica como “bom
entrevistador porque ouvia atentamente o que o entrevistado dizia e não se
desconcentrava pensando na próxima pergunta”.
“Tinha uma
curiosidade genuína, mas não agressiva. Era educado, polido, sutil”.
Ora.
Cria de Silvio
Santos, eterna cara de menino, Gugu ficou notório com uma atração chamada
Domingo Legal, um vale tudo ordinário no SBT.
Na guerra pela
audiência, criou um pornô soft numa banheira, entrevistava assassinos famosos,
cobriu a “exumação” do cadáver de Dercy Gonçalves.
O ponto mais
baixo foi a farsa do PCC em 2003, quando dois “membros” da quadrilha falaram ao
programa.
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Apresentador Gugu Liberato (DCM) |
Os picaretas
encapuzados receberam 500 reais cada um para mentir diante do apresentador, que
fingia surpresa.
Um antecessor das
fake news de massa.
Gugu nunca
admitiu ter conhecimento da fraude. Cascata completa que ele jamais
reconheceu.
Sua morte aos 60
é uma tragédia, claro. A questão não é pessoal.
Mas seu legado
foi contribuir com mais lixo para o monturo da televisão aberta brasileira.
Gugu não foi visto, em décadas, indicando um mísero livro.
Henry Sobel será
velado nos EUA numa cerimônia discreta.
Gugu Liberato, na
Assembleia Legislativa de São Paulo. Doria decretou três dias de luto em sua
memória.
Bolsonaro prestou
solidariedade à família de somente um deles. Você sabe qual.
Sobel
não teve perdão. Gugu nunca precisou pedir.