Lula, entre o medo e a esperança
por Emir SaderColunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiro
Há quem diga que o Brasil está dividido entre quem tem medo do Lula e
que tem esperança nele. Pode ser exagerado, mas expressa certamente algo da
realidade, do imaginário e das expectativas do país.
Ele pode estar com fotos na primeira página dos jornais, revistas ou
sites. Ou nem ser citado dias inteiros. Mas o seu espectro cruza toda a
história brasileira, há varias décadas. Desde que conseguiu, sob sua liderança,
romper a espinha dorsal do "milagre" da ditadura, e o santo desse
"milagre": o arrocho salarial.
Mais tarde, candidato a presidente, deu o primeiro grande susto nas
elites tradicionais, ao passar para o segundo turno contra o Collor. O fracasso
deste de novo fez subir o temor, até que veio o alivio, com as vitórias do FHC.
Mas o fracasso também de FHC recolocou o medo e a esperança na ordem do
dia. Nao adiantou o pânico que quis se criar – a debandada de empresários, o
"risco Lula", a disparada do dólar -, Lula ganhou e aí o espectro se
fez carne. Alguém passou a presidir o país colocando em prática tudo o que as
elites diziam que era impossível: crescimento com distribuição de renda e
controle da inflação, recuperar o papel ativo do Estado, resgatar a auto estima
dos brasileiros, projetar uma imagem altamente positiva do Brasil no mundo.
Era demais para a elite tradicional e seu arauto mais conotado: FHC. A
grande maioria dos brasileiros, pobres no país mais desigual do continente mais
desigual do mundo, graças às politicas das elites tradicionais, passou a
acreditar em si mesma e no país, a sentir que seu destino não era sofrer
desprovida de todos os direitos fundamentais. E encontrou um dirigente no qual
confiar.
Desde então, a direita reserva toda sua artilharia contra Lula. Não
importa que o PT e o governo estejam fragilizados, que não haja nenhuma prova
das acusações contra o Lula, o que importa para a direita é acumular suspeitas
para tentar construir rejeições ao Lula. Já terminaram com a reeleição – como
já tinham feito uma vez -, contra o Lula, diminuíram o tempo de campanha, pelo
pânico do Lula falando para todo o país.
Diante da crise atual e das dificuldades do governo superá-la –
especialmente a econômica, que afeta a grande maioria da população -, o medo e
a esperança só aumentam. O medo, porque sabem que o Lula é o único dirigente
político com credibilidade, com apoio popular e que pode apresentar os
resultados do seu governo, para poder construir um bloco de forças e um projeto
de resgate democrático da crise. E a esperança, pela mesma razão, do lado de
quem foi beneficiário, teve sua vida mudada pelo governo Lula e confia nele.
Por tudo isso, é muito medo de um lado e muita esperança do outro.
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